quinta-feira, 1 de maio de 2008

Você está preparado?

Peter Drucker
Você está preparado?



Nunca tivemos tantas opções para decidir nosso destino. Nenhuma escolha será boa, porém, se não soubermos quem somos.
Artigo extraído da Revista Você S/A. Agosto de 2000.

Por Peter Drucker

Daqui a algumas centenas de anos, quando a história do nosso tempo estiver sendo escrita com a perspectiva de um distanciamento maior, muito provavelmente o mais importante evento que os historiadores verão não será a tecnologia, nem a Internet, nem o comércio eletrônico. Será a mudança sem precedentes ocorrida na condição humana. Pela primeira vez, literalmente pela primeira vez, um número substancial e crescente de pessoas tem a possibilidade de fazer escolhas. Pela primeira vez, as pessoas terão de administrar a si próprias. E é preciso que se diga uma coisa: elas estão totalmente despreparadas para isso.

Em toda a história, praticamente ninguém teve a possibilidade de escolher. Acho que até cerca de 1900, mesmo nos países mais desenvolvidos, a maioria esmagadora das pessoas seguia o pai - se tivesse sorte. Havia somente mobilidade para baixo, nunca para cima. Se o seu pai fosse um camponês em qualquer lugar, você também o seria. Se ele fosse um artesão, você também seria um artesão. E assim por diante.

OPORTUNIDADE DE FAZER ESCOLHAS

E agora, de repente, um número muito grande de pessoas - ainda uma minoria, mas que está crescendo - pode fazer escolhas. E mais: essas pessoas terão mais de uma carreira. Atualmente a expectativa de vida profissional está beirando os 60 anos. Em 1900, ela era de 20 anos.

Num espaço de tempo muito curto nós não acreditaremos mais que a aposentadoria represente o fim da vida de trabalho. Mesmo que ela ocorra mais cedo do que pensávamos, a vida profissional continuará, nem que seja por causa das necessidades econômicas. Prevê-se que dentro dos próximos 25 anos a maioria das pessoas que trabalham hoje ainda estará trabalhando. Talvez não em tempo integral ou como empregados em uma companhia, mas como temporários ou em tempo parcial. Ainda assim estarão trabalhando, até os 70 anos. Em parte, talvez, por razões econômicas. Espero que os meus netos não sejam tolos a ponto de gastar 35% da sua renda no sustento de pessoas mais velhas perfeitamente capazes de trabalhar. Por mais que as pessoas invistam em seus planos de aposentadoria, somente um número muito reduzido delas poderá viver sem alguma forma de rendimento extra.

Mas o conhecimento também proporciona escolhas. E quando falo com as pessoas que fazem parte do meu programa de administração executiva (que têm em média 45 anos e são bem-sucedidas - 60% delas no mundo dos negócios e 40% fora dele), cada uma diz: "Eu não espero terminar a minha carreira no lugar onde estou trabalhando hoje".

Se o seu pai era um advogado, você também seria, ou talvez um médico, mas sempre um profissional liberal. E assim por diante. As pessoas passavam toda a vida na mesma classe em que nasciam. Hoje, é muito comum a mobilidade social proporcionada pela aquisição de conhecimentos.

Isso também explica por que de repente temos mulheres nos mesmos cargos antes ocupados só por homens. No decorrer da História, homens e mulheres sempre tiveram participação igual na força de trabalho. A idéia da dona de casa ociosa é um mito do século 19, pois homens e mulheres tinham trabalhos diferentes. Não houve civilização alguma em que os dois gêneros fizessem os mesmos trabalhos. E o trabalho que requer conhecimento não tem gênero. Esta é uma das grandes mudanças: no campo do conhecimento, homens e mulheres desenvolvem o mesmo trabalho. Esse fato também não tem precedentes e representa uma grande evolução na condição humana.

RESPONSABILIDADES DA ESCOLHA

Portanto, antes de mais nada temos de saber quem somos. Quando pergunto aos meus alunos, que são pessoas de sucesso, qual é a sua maior aptidão, quase nenhum deles sabe responder. "Sei o que preciso aprender para aproveitar ao máximo minhas aptidões?" Nenhum deles se fez essa pergunta, jamais. Pelo contrário, a maioria orgulha-se muito da própria ignorância. No setor de relações humanas há muitos que se orgulham de não saber ler um balancete. Mas, se você quiser ser eficiente no mundo de hoje, tem de saber. Por outro lado, há contabilistas que também se orgulham muito por não conseguir se entender com os seres humanos!

Bem, não há nada do que se orgulhar - é algo de se envergonhar. Afinal, são coisas que você pode aprender. E tanto uma coisa quanto a outra são muito fáceis. Não é difícil aprender a dizer "por favor" e "obrigado", nem aprender boas maneiras - e são as boas maneiras que fazem você se entender com as pessoas.

USANDO O FEEDBACK

Poucas pessoas sabem onde é o seu lugar, que espécie de temperamento e de pessoa realmente são. Poucas se perguntam: "Será que eu trabalho bem com as pessoas ou sou um solitário?", "Quais são os meus valores?", "Qual é o meu objetivo?", "Onde é o meu lugar?", "Qual a minha contribuição?"

E isso, como eu já disse, não tem precedentes. Os grandes realizadores sempre se fizeram essas perguntas. Leonardo da Vinci tinha um caderno cheio de perguntas que fazia a si próprio. E Mozart conhecia isso muito bem. Ele é o único homem na história da música que conseguiu ser igualmente bom em dois instrumentos completamente diferentes. Não era apenas um grande virtuose do piano, mas também do violino. E, no entanto, decidiu que só se pode ser bom em um instrumento, porque, para ser bom, é preciso praticar diariamente durante 3 horas. Não há horas suficientes no espaço de um dia para isso. Portanto, ele desistiu do violino. Ele sabia disso, e tomou nota - e nós conhecemos os seus cadernos.

Os super-realizadores sempre souberam quando deviam dizer "não". E sempre sabiam qual o seu objetivo e onde deviam se situar. Foi isso que os tornou super-realizadores. E agora todos nós temos de aprender a fazer a mesma coisa. O que não é muito difícil, pois o segredo - como Leonardo e Mozart faziam - é tomar notas e depois conferir o que se escreveu.

Cada vez que se realiza algo importante, deve-se escrever o que se espera que aconteça. "Quais são os resultados dessa decisão?" As decisões mais importantes nas organizações são as pessoais. No entanto, somente os militares, e muito recentemente, começaram a se fazer esta pergunta: "Se este homem foi colocado aqui para auxiliar esta base, o que se espera que ele consiga?" E passados três anos voltam a avaliar o que fizeram. Atualmente, eles atingiram um ponto em que 40% das suas decisões funcionam.

A Igreja Católica Romana está apenas começando a colocar questões deste tipo a respeito de bispos: "Por que se coloca um bispo numa diocese? O que esperamos disso? Por que o colocamos aqui?" E estão descobrindo que uma grande maioria das nomeações não corresponde às suas expectativas porque não existe realimentação (feedback).

CONSTRUINDO APTIDÕES

É muito fácil aprender qual é a sua capacidade examinando os resultados. É preciso dizer que a maior parte de nós não sabe valorizar as aptidões. Nós as tomamos por coisas dadas. Temos facilidade em fazer as coisas para as quais temos aptidão, mas acreditamos que algo que não for difícil de fazer não pode ser bom. Não conhecemos nossa capacidade, nem aquilo de que necessitamos para melhorá-las.

Não temos conhecimento das aptidões que Deus não nos deu. Eu não precisei de nenhum conhecimento especial para saber que não sou um pintor. Na primeira vez em que peguei um lápis, quando tinha 2 anos de idade, já sabia disso. E os casos que não são extremos? A gente realmente não sabe se isso ou aquilo serve ou não para nós. Portanto, atingimos um estágio sem precedentes. E as pessoas mais instruídas deverão aprender a se conhecer melhor nos próximos 30 anos.

Temos de aprender onde nos situar e quais são nossas aptidões para extrair o máximo benefício disso. Devemos saber onde estão nossos defeitos, quais as aptidões que não temos, onde estamos, quais são os nossos valores. Pela primeira vez na História da humanidade temos de aprender a assumir a responsabilidade de administrar a nós próprios. E, como já disse, provavelmente essa é uma mudança muito maior do que a trazida por qualquer tecnologia - uma mudança na condição humana. Ninguém nos ensina isso - nenhuma escola, nenhuma universidade -, e provavelmente só daqui a uns 100 anos é que começaremos a fazê-lo.

Enquanto isso, os realizadores (não estou falando de milionários, mas sim de pessoas que querem fazer uma contribuição para a humanidade), os que querem ter uma vida realizada e sentir que há algum propósito para a sua passagem pela terra, terão de aprender algo que, até há poucos anos, somente uns poucos super-realizadores sabiam: administrar a si próprios, reforçar a sua capacidade, construir seus valores.

Pela primeira vez o mundo está cheio de opções. Quando eu ouço meus netos falando das opções que têm, sinto-me muito assustado - até demais. Quando eu nasci, não havia opção alguma. E agora somos forçados a aprender que a nossa tarefa é decidir qual é a nossa opção. E mais: Por quê, qual é a que me serve e onde me situo? Como eu já disse, retrospectivamente, historicamente, essa pode ser a maior mudança, o evento mais importante da época em que vivemos - mais importante do que a tecnologia.

O PAPEL DO SETOR SOCIAL

Uma conotação importante para o setor social é a seguinte: não existe melhor maneira para saber onde a gente se situa do que tornando-se voluntário em uma organização sem fins lucrativos. Meus amigos empresários sempre me procuram para falar de enormes programas de desenvolvimento feitos para seus empregados, e eu acho tais programas muito desinteressantes. O desenvolvimento real que já vi no pessoal das empresas, principalmente nas maiores, vem do seu trabalho como voluntários em uma organização. Existindo responsabilidade, os resultados logo aparecem e em pouco tempo as pessoas descobrem quais são os seus valores. Portanto, deixem-me dizer que essa é provavelmente a grande oportunidade para as organizações sem fins lucrativos - especialmente para o seu relacionamento com o mundo dos negócios.

Há muito tempo falamos da responsabilidade social das empresas. Espero que dentro de pouco tempo estejamos falando das organizações sem fins lucrativos como a grande oportunidade social para o mundo dos negócios. O trabalho voluntário numa igreja ou em qualquer outra organização é a oportunidade que o mundo dos negócios tem para se desenvolver. Isso vale muito mais do que qualquer atividade desenvolvida em uma companhia ou universidade.

Uma das oportunidades importantes que temos no setor social, uma das coisas exclusivas que podemos oferecer, é justamente esta: o fato de ocuparmos um espaço onde qualquer trabalhador que esteja interessado em adquirir conhecimentos possa realmente descobrir quem ele é e aprender a administrar a si próprio.

PETER DRUCKER é freqüentemente descrito como "o guru dos gurus". Em outras ocasiões, diz-se que ele dispensa apresentações. Não é sem motivo. Aos 90 anos, Drucker é o maior pensador sobre gestão do nosso tempo. Ele praticamente inventou a administração como disciplina nos anos 50 ao considerá-la "o espírito da era moderna". Nascido em Viena, educado na Áustria e na Inglaterra, ele trabalha desde 1937 nos Estados Unidos. Drucker se destacou como professor da New York University e é autor de dezenas de livros. Em seu último, Desafios Gerenciais para o Século 21, ele diz que estamos vivendo um dos períodos de maior transição da História moderna - e que não estamos preparados para as mudanças que virão. É a palavra do guru dos gurus.

Foto: © 1999 Schenk & Schenk Photography
Trechos da conferência "Redefinindo lideranças,
organizações e comunidades", de 9 de novembro de 1999,
da Fundação Peter Drucker

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Comentários ao livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire

O saudoso Professor Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia revela muita simplicidade e sabedoria que formar é muito mais que treinar o educando no desempenho de destrezas, visto que para ele o respeito pelo ser humano é algo maior e que deve ser pautado durante toda a vida. Neste sentido, valoriza a formação ética do educando e ressalta a importância da responsabilidade ética dos professores e professoras no exercício da tarefa docente.

Fala da ética universal do ser humano que, segundo o autor, e afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe, mas que deve ser vivenciada na prática docente.

Para o autor o papel do educador nesta tarefa tem uma dimensão social na formação humana, pois a tarefa docente do educador não é apenas ensinar os conteúdos, mas ensinar a pensar certo. Assim, demonstra a dimensão que tem a prática docente no processo de formação das pessoas, visto que nós somos seres inacabados e que o processo de construção do conhecimento se dá ao longo da vida.

Conforme Paulo Freire, “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” e que independente do educador ser um educador “bancário” ou “problematizador”, o educando deve manter a sua rebeldia, seu gosto pela curiosidade, deve arriscar-se em busca de uma força criadora do aprender que pode levá-lo além dos efeitos negativos do falso ensinar. .

O livro é realmente muito importante na formação dos educadores, principalmente quando o autor coloca é necessário respeitar a autonomia do ser educando, ter paciência, humildade, bom senso,o esperança é alegria no processo de construção do conhecimento. Portanto, é preciso conhecer a realidade do educando e aproveitar suas experiências para aprender com eles, e ainda, é necessário ter uma reflexão crítica sobre a prática docente.

Paulo Freire coloca que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” posto que “ensinar exige a convicção de que a mudança é possível” e que poderá ocorrer por meio dos ensinamentos apreendidos pelos alunos..

Neste contexto é que a pedagogia da autonomia pode contribuir para a libertação do aluno no seu modo de pensar e de viver. Já a prática educativa deve ter “afetividade, alegria, capacidade cientifica, domínio técnico a serviço da mudança”.

Ressalta que como prática estritamente humana, jamais pode entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos, emoções, desejos e sonhos devessem ser reprimidos. Nem tampouco compreendeu “a pratica educativa como uma experiência que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual”.

Desta forma é necessário ter autonomia educativa para que possa realmente ocorrer tanto o ensino quanto a aprendizagem e cabe ao Educador estimular os seus alunos na busca de novos conhecimentos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O desafio da mudança na educação

Este tema tem sido muito discutido em sala de aula, especialmente após o filme "O sorriso de monalisa". O artigo abaixo, demonstra como a mudança na educação envolve aspectos históricos, culturais, sócio-econômicos, portanto é bastante complexo o tema. O artigo mostra o que pensa o educador Moran a respeito do assunto.
Algumas considerações sobre o desafio da mudança na Educação
A mudança de forma geral é algo que inquieta e exige novas posturas e adaptações para que realmente aconteça. Quando se fala em mudança na educação é preciso reunir vários elementos que a caracterizem como necessária e benéfica para seu meio social, uma vez que a mudança pode ser tanto para melhor como para pior.
A idéia de mudança na educação implica aspectos históricos, culturais, sócio-econômicos, tecnológicos, biológicos, enfim, implica uma série de setores, por isso é difícil caracterizar a mudança como algo instantâneo, já que ela só acontece como processo e atrelada a vários elementos.
A necessidade e vontade de mudança estão relacionadas à constatação das lacunas ocasionadas entre o que a sociedade está pedindo da formação dos indivíduos e o que o espaço escolar está oferecendo para dar conta disso, ou seja, ao perceber-se ineficaz, despreparada e desatualizada a instituição entende esse vão e busca recuperar-se e criar novos meios de interagir e aprender para então desempenhar sua função social de fato.
E é nessa sociedade que exige a cada dia novas habilidades e formações que origina a necessidade da mudança, pois é uma sociedade diferenciada dos outros momentos históricos. Por exemplo, o evento da Internet, que traz consigo a mudança do paradigma de conhecimento, de tempo e ainda, a possibilidade de apropriar-se de uma ferramenta que leva a um mundo novo, virtual e real ao mesmo tempo. Isto vem colaborar para a tomada de consciência quanto à necessidade da mudança dentro de uma nova sociedade.
Conforme Moran
Estamos em uma etapa de grandes mudanças na transição para a Sociedade da Informação, que afetam também à Educação. Temos que repensar seriamente os modelos aprendidos até agora. Ensinar e aprender com tecnologias telemáticas é um desafio que até agora não foi enfrentado com profundidade. Temos feito adaptações do que já conhecíamos. A educação presencial e a distância começa a ser fortemente modificada e todos nós, organizações, professores e alunos somos desafiados a encontrar novos modelos em todas as situações. As tecnologias telemáticas de banda larga, que permitirão ver-nos e ouvir-nos facilmente, colocam em xeque o conceito tradicional de sala de aula, de ensino e de organização dos procedimentos educacionais.

É possível então pensar a educação como uma roupa que precisa sofrer alguns ajustes para servir novamente em alguém? Como se o tempo tivesse passado e a pessoa emagrecido ou engordado, a moda fosse outra e se fizesse necessário retirar os antigos acessórios e trocá-los por algo mais apropriado, jogar fora os pedaços de tecidos velhos e rasgados por tecidos mais resistentes ao clima e região que a pessoa está no momento. Pode-se dizer que fica difícil pensar a mudança necessária na educação como um conserto de roupa, já que tantos são os componentes desse processo que é feito por pessoas que possuem vontade própria, idéias, necessidades diferentes para uma sociedade também tão mudada. Parece então que não existe um só componente que desestrutura a educação dos moldes atuais e que não é uma única atitude que vai dar conta de aquietar o processo. Segundo Moraes “é preciso educar para uma cidadania global que ensine a viver na mudança e que não queira controlá-la. Compreendendo assim que é impossível desacelerar o mundo, e assim, procurar adaptar a nossa forma de educar às mudanças rápidas e aceleradas presentes no mundo”.
Então a mudança na educação que estamos buscando e ansiando para que chegue pronta devolvendo-nos a sensação de segurança está longe de acontecer. Deixemos então que a sensação de insegurança venha e nos faça pelo menos curiosos pelo desconhecido e a longo prazo então mais confortáveis nele.
Em Toralles – Pereira, lemos:
Neste momento de transição e construção de outros modelos de racionalidade, em que uma nova relação com os antigos lugares epistemológicos nos permitirá um novo caminhar e uma outra relação com o mundo, Santos aconselha prudência e diz: como Descartes, no limiar da ciência moderna exerceu a dúvida em vez de a sofrer, nós, no limiar da ciência pós-moderna, devemos exercer a insegurança em vez de a sofrer. Afinal, a prudência é a insegurança assumida e controlada.

O que não podemos é nos cercar de falsa segurança que não satisfaz mais o momento atual e nem nos conformarmos com a barreira dessa nova situação que parece muito difícil, quase impossível de ser ultrapassada, porém segundo Corrêa (2005), apesar de difícil de ser ultrapassada é passível de ultrapassagem.
Referências bibliográficas
CORRÊA, Ronald C. Os desafios do professor diante da perspectiva de formação de cidadãos na nova ordem mundial. Disponível em: http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/157/31/. Acesso em: jul.2005.
MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. 10ª.ed. Campinas, SP:Papirus,2004. (Coleção Práxis).
MORAN, José Manuel. Educação Inovadora na Sociedade da Informação. Disponível em: URL:http://www.educacaoonline.pro.br/art_educacao_inovadora.asp. Acesso em: jul.2005.
TORALLES-PEREIRA, M. L. Notes on Education: the transition toward a new paradigm. Interface — Comunicação, Saúde, Educação, v. 1, n.1, 1997. Disponível em: http://www.interface.org.br/revista1/ensaio3.pdf. Acesso em: jul.2005.

Carina Merkle Lingnau é professora da rede pública de ensino em Joinville-SC. Email: donut1br@yahoo.com.br

O Educador e o seu Mundo

O Educador e o seu Mundo
"Uma verdade existe sem depender de opiniões."


Autora: Anne Marie Lucille
--------------------------------------------------------------------------------

O silêncio é a expressão maior da criação
Dizia ele que a vida lhe fora ingrata pois nunca tivera muitas chances de se afirmar como alguém bem realizado. Confessou que invejava amigos seus bem sucedidos, atribuía o sucesso deles ao amparo de suas familias, as posses dos pais, algo que jamais tivera. Agora, já maduro, questionava o objetivo da vida e via que havia uma grande injustiça deliberada para alguns em detrimento de outros. Por que os Deuses não vêem que esta injustiça existe, questionava amargurado. Fervoroso respeitador das leis religiosas com as quais se identificava, agora colocava em dúvida a validade daquilo tudo. O Respeito às leis e dogmas sempre cultuou sem desvio algum; afirmava, agora que via as recompensas não chegarem, sentia-se frustrado e de certo modo enganado. Comentou sobre alguns que isso ignoravam e mesmo assim sucesso na vida conseguiram.


É estranho o hábito inconsciente da busca do mérito para tudo o que se faz. Por que o mérito tornou-se o alvo de nossas vidas, o seu oposto, será para sempre a sombra que dará vida e solidez aos nossos conflitos. Por que a obrigação tornou-se a força motriz de nossas ações? Pode algo feito por obrigação, trazer-nos satisfação duradoura, nos dar a paz que tanto buscamos e sequer sabemos o que é?

Achamos que o verdadeiro papel daquele se propõe a educar, seria ensinar ao seu discípulo, o pensar por si mesmo, não é verdade? O pensar independente, o suscitar a dúvida, livre das instituições criadoras de obrigações, motivando o despertar da essência criativa, que é a verdadeira fonte de inteligência do ser, que começa com o questionar a validade do modelo que os costumes induzem, como base para seu comportamento, como ser social, sem direito a contestações.

A frustração do indivíduo como ser social, é diretamente proporcional a quantidade de méritos que o mesmo espera obter na vida. Esse objetivo, que na verdade não é seu, é a programação básica obrigatória instituída, já ao nascer, pelas religiões, tradições, por toda mentalidade atuante no seu meio, e que determinará todos seus anseios, vontades, medos, sua conduta pelo resto da vida. Esta indução é incondicional, inconsciente, sem atributos que suscitem rejeição ao modelo, cujos dogmas e códigos estabelecidos como verdades, interpretam a dúvida e o questionar como algo indecente, pecaminoso, fonte de culpas e pecados.

É fato que o modelo tradicional de educação de todos os povos são falhos. Não fossem, o cidadão sensato, em paz com seus anseios, livre de culpas e dogmas, cordial e delicado com seus próximos, cuja conduta em parte é resultado dessa educação, já se faria presente, mas, não é o que ocorreu, não é o que vemos hoje em nosso mundo. Um ser mesquinho, violento, tendencioso ao extremo, angustiado, depressivo, criador de todos os tipos de medos, incapaz de viver em harmonia, é o resultado dessa educação, modelo predominante no mundo. É um modelo apoiado no eterno dar para receber, criador de castigos para os alheios ao modelo, incentivador da disputa, da vaidade pessoal, da busca ao poder como meta principal. Onde existe busca ao poder, sempre haverá opressores e oprimidos, vencedores e vencidos, ricos e miseráveis, falta de respeito para com o semelhante, discriminação, superiores e inferiores, insensibilidade, apego e culto ao individualismo, alimentador do Egocentrismo órbido da espécie humana.

Sabendo-se que o modelo educacional do mundo seria falho, qual seria então o papel do preceptor verdadeiramente interessado em dar aos seus discípulos a educação correta, aquela que promovesse a chama do descontentamento no espírito humano, o despertar da sensibilidade, o despertar da inteligência como fonte real de liberdade do ser, que poderia lhe trazer a paz que tanto anseia?

O despertar da inteligência é o único e verdadeiro caminho para a conquista da paz entre os seres, da eliminação de todos os seus conflitos interiores e exteriores, da eliminação definitiva de todos os seus medos, do despertar do ser que poderá de fato promover uma mudança concreta em seu mundo, uma mudança que é movimento criativo, criando assim um caminho válido para um viver em harmonia, onde o respeito pela vida seria seu único objetivo.

A sensibilidade só desperta com a inteligência
Inteligência certamente não é isso que conhecemos, não é o conhecimento acumulado, não é a capacidade de formular pensamentos lógicos, não é o saber qualificado, especialista, que são apenas qualidades deformadas, mas próprias, de um ser que criou e alimenta o individualismo como entidade válida, que por sua vez é incapaz de criar estabilidade e bem estar ao mundo onde vive e morre.

Onde começa e onde termina o interesse pessoal, e o que limita o interesse pessoal do interesse do outro? Podem pessoas motivadas apenas por interesses pessoais, promoverem de fato uma mudança em si mesmos, capaz de refletir no modelo do mundo? O interesse de um é limitado pelo interesse do outro, ou esse limite é determinado pela força do mais capaz sobre o menos dotado? Poderia haver a possibilidade do interesse individual ser único entre todos os seres, ser apenas o interesse da humanidade, da paz entre todos?

Reconhecer que nossos conflitos, em casa, no trabalho, com os amigos, com nossos medos, é a causa da miséria no mundo, das guerras, da degradação dos povos, do ser brutal que somos, e que tem na educação falha um forte aliado, já seria o começo da inteligência. Esse despertar começa com o surgimento da humildade, que se transforma em atenção e depois em resultados que criarão um movimento finalmente capaz de promover uma mudança válida em nossa forma de agir e de ver o mundo.


Ao negar a compreensão do ser, com suas angústias e conflitos infinitos, como fonte de todos os problemas da humanidade, a educação, centrada apenas em formar cidadãos especialistas e ávidos de obter sucesso, condenou o ser humano à degradação, a falta de respeito mútuo, e sedimentou de vez todas as bases da mentalidade deformada que ora domina a humanidade.

O preceptor que está verdadeiramente, seriamente, preocupado com a educação, deve se concentrar no ser humano como indivíduo, e buscar procurar entender como esse indivíduo funciona psicologicamente dentro do seu meio, como interage com o mundo, o que é ele em sua essência e não apenas nos aspectos externos que demonstra quando está em sociedade. A sociedade não é o indivíduo, mas o indivíduo inserido nela é produto de suas imposições, de seus contrastes, do seu domínio. Ela criou o indivíduo que vemos em ação, não uma ação que representa o indivíduo como ser, mas, uma ação completamente deformada que retrata apenas um ser mercadoria, impessoal e mesquinho, criação desse condicionamento social que é responsável pela degradação dele mesmo.

Educar é primeiro entender a natureza essencial do ser humano, e o preceptor, interessado que está nessa educação que exige uma ação nova, que criará um movimento realmente modificador, deve tentar descobrir o que é o ser humano; não o ser humano produto do meio, mas sua essência como ser responsável por seus atos; não o ser humano resultado de seus conflitos, mas o ser que existe por trás destes conflitos.

O ser humano como existe atualmente é produto de todos os conflitos e medos que a humanidade cultivou por toda sua existência, e no fundo desse ser existem duas entidades que eternamente lutam entre si, degladiando-se para ver quem predomina. Estas entidades não estão separadas e são na verdade uma só; uma é a personificação do ser, o papel que desempenha como ser social no seu meio, produto da programação que o próprio meio lhe incutiu desde a infância e mesmo antes desta, o Ego; a outra, sua essência real, o ser humano como realmente ele é, sem máscaras, sua verdadeira natureza.

A causa do conflito entre as duas realidades, é que apenas uma é verdadeira, mas a falsa que é sua Ego-personalidade é aquela que predomina, que o caracteriza como ser que age, que sofre, que alimenta e mantém seus conflitos vivos. O ser humano, por negar justamente sua essência básica, seu eu real, criou o Ego que é aquela entidade que vive em um mundo não real, um mundo diferente da realidade das coisas. Nesse mundo artificial, onde as religiões, os padrões sociais, os dogmas, as conveniências instituídas, criaram seu próprio conceito de errado e certo, a ilusão do vir-a-ser tornou-se uma obsessão, a razão do viver.

Precisamos entender, que nós como seres humanos, somos também animais, não é verdade isso? Não podemos negar o fato de que somos animais, animais lógicos, dotados de razão, diferentes em mente daqueles irracionais, mais iguais a eles em instinto básico, e quanto a isso nada podemos fazer, gostando ou não somos animais, e todo instinto animal ainda em nós predomina. Assim, isso é um fato, e diante de fatos contestações não tem validade alguma, é imaturo e infantil, uma verdade existe sem depender de opiniões.

Desse modo, como animais, herdamos toda sua irracionalidade, caracterizada pela violência, pela insensibilidade à dor alheia, pelo egoísmo, pelo desejo de dominação dos mais fracos e tantas outras coisas. Desejando o preceptor de fato conhecer a natureza humana, único meio de realmente começar uma educação séria, deve ele estar ciente desses fatos, e se for de fato sério como educador, ardoroso em querer modificar de forma construtiva seu mundo, deve começar observando a si mesmo. Afinal, ele como ser humano é igual a todos os outros, e, se tiver amor pelo que faz, deve primeiro se observar, se conhecer. Assim, com o tempo, verá em si, a natureza de todos aqueles que se propõe a educar, e, desse modo poderá de fato eficiente ser em seus propósitos.

Ora, sendo o ser humano pela herança do animal irracional que habita em si, violento por natureza, por que então negar esse fato em detrimento de um Ego que lhe diz que isso é feio, é errado, é contra a ordem das coisas? O fato de sermos violentos e nos reconhecermos como tal, não quer dizer que vamos praticar a violência, mas negar isso, o fato de sermos violentos, isso sim constitui uma violência. Assim, está o Ego diante de um paradoxo, sabe que em essência o ser é violento e irracional, mas seu condicionamento diz que isso é errado, e imediatamente surge o conflito entre o que é, que é o fato de ser violento, e o que deveria ser, que é a não violência.

Negando o que somos, o Ego faz isso, criamos o conflito. Reconhecer nossa verdadeira natureza, que é a violência, sem condenações, sem argumentos que justifiquem tal coisa, estamos criando em nós um estado de humildade que pode ser o fato novo que precisamos para mudar. Quanto ao fato de sermos violentos, nada podemos fazer, disso só nos livraremos na morte, mas, o reconhecer isso como um fato é um ato de amor, que exige uma atenção nunca dantes praticada, e, esse perceber, por si só já é a mudança. Sabendo, depois percebendo, depois sentindo, que somos violentos e que quanto a isso nada podemos fazer, desperta no ser um estado de compaixão que transcenderá o estado de violência. Entenderá então a natureza humana, verá a insensatez da manifestação desse estado, causador de todas as desgraças da humanidade, e saberá que o estado de violência o acompanhará pelo resto da vida, é verdade, mas que jamais em si se manifestará como estado válido.

Precisamos refletir bastante sobre o novo papel do preceptor que deseja um ser humano novo, livre dos condicionamentos que criaram toda angústia e sofrimentos do mundo, que certamente conduzirão o homem ao caos e as guerras, a deformação completa da sua natureza original.

Autora: Anne Marie Lucille
A autora é pesquisadora e escritora.
Veja mais artigos da autora em: http://www.joselaerciodoegito.com.br
email: annemarielucille@yahoo.com.br

Um Mundo que Ignoramos


"O verdadeiro educador não aprende para ensinar, ele aprende enquanto ensina..."

Autor: Alberto Filho[1]

Uma possibilidade; pode ser uma solução
Muitas vezes não conseguimos de uma forma eficiente, passar para nossos alunos a matéria que temos em mente, quer dizer, a nossa pauta didática. Dessa forma, não é novidade, quando acabamos por perder completamente o diligente trabalho, de dias e noites de estudos, compilação e finalmente de preparação, de um material, que quase sempre será ignorado em sala de aula. Se nem mesmo somos capazes de reter a atenção sempre dispersa de um grupo, desejar então que assimilem alguma coisa, pode parecer um sonho distante da realidade. Não somos responsáveis, nem temos a pretensão de moralizar ou disciplinar quem quer que seja, nem poderíamos se o quiséssemos, mas resta a frustração de não sermos capazes de exercer nosso magistério da forma idealizada em nossos primeiros devaneios vocacionais, quando sonhávamos com a possibilidade de que um dia poderíamos de fato mudar alguma coisa, por mínima que fosse.


Quando chegam em nossas mãos, muitas vezes, sem que nada saibamos a respeito de suas aspirações pessoais, ou mesmo das suas verdadeiras índoles, resta-nos cumprir as determinações que exigem o direcionamento escolar padrão. De nada adianta questionarmos se aquele modelo é ou não edificador, ou isso, ou aquilo; pois se não concordamos, centenas de outros educadores, estarão prontamente dispostos a fazerem a coisa em nosso lugar. Farão sem questionar, sem opinar, como máquinas cegas e obedientes, enfim, apenas cumprindo a carga horária necessária para justificar seus salários. Assim é com a maioria das escolas, que se tornaram apenas instituições comerciais, não educacionais. Não estão preocupados com a reforma ou construção de quem quer que seja. No final do período, cada instituição adotará seus próprios meios para fazer o aluno avançar de grau, ignorando completamente, se como seres humanos, se tornam menos ou mais disciplinados; menos ou mais conscientes de seus papéis num mundo que ainda não conhecem, que talvez nunca venham a conhecer.

Não podemos nos iludir, pois há um limite na trajetória comportamental de um ser humano, até onde podemos atuar, depois disso, a reforma da sua conduta, estará inteiramente nas mãos das vicissitudes da vida, do menor ou maior sofrimento, que ainda é a única linguagem que fala para todos no mesmo tom; uma linguagem capaz de criar em cada um deles o desejo de por si mesmo, mudar. Uma criança pode ainda ser cultivada, e um jovem poderá ainda mais, se quando criança ao menos tiver sido iniciado. Valor algum tem o heroísmo, a resignação pedagógica, se seus esforços não são recompensados com a compreensão de um aluno que se recusa a ouvi-lo.

Não podemos obrigar ninguém a assimilar e aplicar em vida, o que aprende na vivência escolar, nem devemos nos iludir achando que estamos cumprindo nosso papel de cidadãos preocupados com uma reforma, que culminará com a transformação do homem, tornando-o um ser íntegro, e consciente de que construir é melhor que destruir. Temos diante de nós um aluno, um ser humano, mas que pouco conhecemos de sua vida pessoal, dos rumos da sua família; o que no final poderá ter um efeito mais determinante sobre sua personalidade, que nossos melhores esforços em edificá-lo. Diante disso, devemos ser mais realistas e menos idealistas. Um idealista fecha os olhos para muitas realidades e por isso mesmo seus esforços são pouco eficazes, é movido a sonhos, e por isso ignora o que é real. Sua abordagem não pode construir, uma vez que lida com personagens que existem apenas em seus sonhos, seres não reais.

O realista ignora seus sonhos e sabe que tem diante de si um problema concreto. Conhece seu papel de educador e sabe das suas limitações. Tem consciência de que não tem o poder de transformar o mundo, mas pode orientar seus jovens para que possam enfrentar esse mesmo mundo, de uma maneira que lhes permitam sofrer menos; de modo que estejam mais fortalecidos, para enfrentarem os desafios que a vida certamente colocará diante de cada um deles. É seu papel dar-lhes orientação, e esta orientação poderá ou não lapidar de forma positiva parte do seu caráter. Sabe também, que não é o responsável pelo destino do seu educando, afinal não é nem pelo seu próprio; mas estará dando-lhes condições para que possam conduzi-lo de uma forma mais consciente, com maiores chances de acertos, e isso é tudo que pode ser feito pelo educador. Isso nos faz lembrar que, cada educador deve antes disciplinar a si mesmo, deve primeiro compreender seu mundo de relações com coisas e pessoas; deve estar consciente dos seus limites, do seu papel, e deve ter sua própria casa em ordem, antes de se aventurar a querer arrumar a casa alheia.

De que adianta a disciplina através de alguma forma de coação, se chegará um momento onde nossas recompensas não terão mais valor algum, para aqueles que fomos encarregados de tentar disciplinar? Precisamos compreender de uma vez por todas que, o tradicional modelo de castigo e recompensa apenas degrada o homem, cria um homem preguiçoso que não sente prazer no que faz, que vê na obtenção da vantagem sua razão de viver. Este modelo não é capaz de construir decência ou sentimento de respeito em quem quer que seja. Tire-lhe o prêmio e você não terá mais a máquina que obedece em troca de méritos.

Tentar resolver a complexidade dos problemas humanos, tornando-o um ser cada vez mais mecanizado, mais obediente porque almeja lucros, recompensas e vantagens. Isso apenas fortalece neles o sentimento, de que a solução dos seus problemas está na capacidade de consumir, no poder que proporciona a sensação de ter mais que os outros; é instigar e promover a diferença e a competição deliberada entre classes de pessoas, entre grupos sectários ou de interesses comuns. Isso acaba por transformar o inteiro sentido da vida, num simples passeio em meio a uma central de compras, onde para sermos felizes, só precisamos comprar cada vez mais e sempre.

Há alguns anos atrás, fizemos uma abordagem em sala da aula, que nos rendeu frutos maravilhosos. Resolvemos, por nossa conta e risco, sair um pouco do lugar comum, do processo linear e inflexível das técnicas didáticas tradicionais. Inicialmente não tínhamos uma idéia concreta dos resultados, pois era algo novo, algo que nunca tínhamos visto na didática escolar do ocidente. Tanto, que sequer fazia parte da pauta de matérias da nossa prática diária. Era algo informal por assim dizer; algo que sequer a direção tinha conhecimento, e começou como uma simples brincadeira no período do recreio.

A primeira abordagem foi com um grupo, de mais ou menos 20 alunos, com faixa etária entre 8 e 10 anos de idade. Tínhamos aula de pintura com esse grupo, uma vez pó semana. Num certo ponto do ano letivo, durante uma pequena discussão entre dois alunos que sentados numa mesma mesa, disputavam o mesmo potinho de tinta para colorir uma mesma árvore, questionei, porque não repartiam a tinta entre eles. Um deles, afirmou que, como pegara primeiro o pote de tinta, deveria pintar antes do outro a sua árvore; mas, ele enfatizou, depois que acabasse, o outro poderia usá-lo. Perguntei porque não poderiam molhar ao mesmo tempo seus pincéis, no mesmo potinho, que ficaria sobre a mesa, sem pertencer a preferência a nenhum deles.

Não foi fácil para eles compreenderem essa abordagem, pois a disputa pela preferência já fazia parte da conduta de cada um. Não compreendiam aquela condição de não disputa, e mesmo depois de concordarem, ainda olhavam para os pincéis um do outro, para ver quem retirava mais ou menos tinta do pote. Percebi que faziam isso de forma sempre mecânica, sem saber o que estavam fazendo, sem saber o motivo porque agiam daquele modo, sem sequer imaginarem que podiam agir de uma forma diferente; de um modo alternativo, fora do padrão que transformara suas ações em gestos mecanizados, completamente inconscientes. Os outros ainda observaram aquilo por algum tempo, e logo, outros, sem que chamássemos a atenção de nenhum deles, começaram a imitar aquele gesto. Foi até uma coisa divertida, pois ficaram contentes uns com os outros, e havia uma espécie de companheirismo diferente entre eles, um certo alívio, pois não precisavam proteger aquilo que julgavam ser suas posses, sob o risco do outro deixá-los sem nada.

Na aula seguinte fiz um desafio a eles, e lhes disse que naquele dia não iriam pintar, pelo menos não aqueles temas que a escola, ou mesmo eu, preparava para eles. Iríamos dar uma volta no pátio da escola, e simplesmente observar o mundo. Expliquei o que deveríamos fazer naquele passeio, e o motivo pelo qual faríamos aquilo. Disse-lhes que deveriam observar a maior quantidade de coisas que fossem capazes de perceber, tais como; plantas rasteiras, a terra e sua composição, as árvores, o céu, a sujeira que encontrassem pelo caminho, as pessoas, o que estas pessoas estavam fazendo, a cor de suas roupas, a coloração das plantas, do céu; e também o que sentiam quando estavam observando cada uma daquelas coisas. Pedi que levassem consigo papel e lápis, pois deveriam anotar ou desenhar alguma coisa que julgassem importante; que pudesse servir de referência caso desejassem lembrar depois com mais clareza, do ocorrido. Houve pouca resistência, assim mesmo, pela não compreensão imediata da coisa; do propósito daquela tarefa, que não chamei de tarefa, pois eles não compreendiam o significado de uma atividade escolar que não fosse considerada uma tarefa.

Expliquei que queria conhecer a capacidade de observação de cada um deles, e expliquei-lhes, depois de alguns dias, os benefícios que viriam com o desenvolvimento dessa qualidade. Paramos muitas vezes em pontos distintos do pátio, e lhes mostrei umas plantinhas muito pequenas, na fresta de uma calçada do pátio. Pedi que olhassem a coloração dos muitos verdes das pequenas folhas, as sombras, seus caules, e também o formato das folhas, e que tentassem ver nelas, alguma coisa que as pessoas normalmente nunca seriam capazes de perceber.

A reação deles foi fantástica, e logo tivemos que estender a atividade a outras turmas, pois todos conversaram sobre aquilo, e em casa passaram a ser mais observadores, mais atentos aos detalhes. A capacidade individual de cada um daquele grupo se transformou de um modo notável, já não eram mais os mesmos, eram capazes de ver o mundo com outros olhos. Depois lhes expliquei outras coisas, coisas, qualidades que todo observador precisa ter, principalmente quando vivemos num mundo onde o pensamento voltado à destruição é a prática comum. E logo que voltamos à sala, quando lhes pedi para relatarem em papel o que podiam lembrar do passeio, de uma agitação inicial onde todos discutiam entre si expondo seus pontos de vista, logo podíamos ver crianças reflexivas, de olhos atentos a tudo que ocorria à sua volta.







Autor: Alberto Filho
email: albjorge@yahoo.com.br
Veja mais detalhes sobre o autor nas notas abaixo.



--------------------------------------------------------------------------------
Notas:

[1] O autor é orientador de educação infantil e adulta, Idealizador e colaborador do Site de Dicas.




--------------------------------------------------------------------------------

© Copyright 2000-2007 http://www.sitededicas.com.br - Todos os direitos reservados.

Comentário sobre o filme "O sorriso de monalisa"

Como atividade em sala de aula, foi-nos dada a oportunidade de assistirmos ao Filme “O Sorriso de Monalisa”, protagonizado pela atriz Julia Roberts, em que o tema central é a vida de uma professora de História da Arte, recém chegada da Califórnia, que ao se estabelecer em um colégio só de moças, dá início a um movimento considerado subversivo para os padrões da época, quando coloca em xeque o papel da mulher na sociedade. Sobre o filme é bom que façamos alguns comentários que julgo de relevância para a nossa Disciplina, bem como para os dias atuais:

Assistimos ao “O SORRISO DE MONALISA" e desenvolvemos atividades em sala de aula a respeito do filme e uma delas e compartilhar comentários e observações, percepções sobre o tema.
O filme conta a estória da uma Professora, recém chegada da Cidade da Califórnia e que foi para Wellesley College lecionar sobre História da Arte. Era uma escola extremamente tradicional, na qual as moças eram preparadas para desempenharem bem o papel de esposa e o objetivo da maioria das garotas era fazer um bom casamento, ter filhos e seguir os padrões impostos por aquela sociedade tradicional, arrogante, hipócrita e cheia de falso moralismo.
A estória se passou nos anos 50 e a nova Professora, que era uma idealista, com idéias muita avançadas para aquela sociedade, percebeu que teria dificuldades em logo na primeira aula.
Essa Professora encarou o desafio enfrentado as famílias, alunas e direção da escola que eram muito conservadores. Ela tentou motivar as alunas a irem além da memorização, a pensar, a entender o sentido das coisas utilizando-se principalmente dão ensino da arte moderna.
Ela investiu na relação professor-aluno. No entanto, naquela época e especialmente naquela sociedade, não era permitido as mulheres expressarem seus sentimentos, suas idéias ou romper com os padrões estabelecidos à décadas.
A cena que mais que chamou a atenção foi a aula que a Professor levou todas as aulas a um depósito e não exigiu que elas fizessem anotações, relatórios, mas que apenas observassem a obra, quebrando um paradigma daquela escola.
Basicamente o filme demonstra um momento de conflito das mulheres que ao mesmo tempo em que buscavam liberdade e sonhavam com dias melhores, também não queriam abrir mão de um certo conforto e comodidade e acabam aceitando permanecer como tudo sempre foi.
A Professora fez a diferença para muitas das suas alunas, mas também aprendeu com elas e foi embora da cidade demonstrando que de alguma maneira sabia que havia cumprido com o seu papel de educadora, visto que as alunas entenderam quais eram os seus ideais.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

O texto trata sobre as tendências pedagógicas, ressaltando que elas se originam de movimentos sociais, filosóficos em um determinado momento histórico.
São apresentadas as tendências Idealistas-Liberais e as Realistas-Progressistas